sábado, 10 de abril de 2010

SIMPLESMENTE, MIRANDA!

por Camila Zanluchi


Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara no mundo: a elegância. Não me refiro a sempre citada elegância na educação no tratar as pessoas com que se vive e convive no seu dia a dia, mas sim na elegância de postura de um ato que nos leva a externar aquele sorriso espontâneo e inconsciente, e principalmente que faz com que os olhos cintilem o extraordinário prazer de estar se observando um momento único.

Sei que abuso da linguagem clássica e coloquial nesse inicio de texto, mas apenas esses termos conseguem expressar com a sutil exatidão necessária, o sentimento de quase devoção e enternecimento causado pelo prazer de se ver Miranda jogar.

João Miranda de Souza Filho, ou como simplesmente o conhecemos, Miranda, nasceu no ano de 1984 e hoje aos 25 anos nos brinda semanalmente com atuações dignas dos maiores ídolos da zaga tricolor ou comparada aos grandes mestres da zaga do futebol mundial em todos os tempos.

Começou a carreira no Coritiba ,foi campeão paranaense em 2004 e no ano seguinte, os franceses sempre com um passo a frente quando se diz respeito à classe e elegância, o levam para desfilar sua arte no gramado do modesto Sochaux, onde ficou apenas por um ano, devido à perspicácia e feeling do quase scouter, ou melhor, dizendo, descobridor de talentos, Milton Cruz que o recomendou e o trouxe de volta ao futebol brasileiro.

No começo torcedores e jornalistas se mostravam totalmente desconfiados quanto a possibilidade da apresentação de um bom futebol do jogador, visto que até então ele era apenas mais um “boleiro” com um empresário bom que havia recebido a oportunidade de passar um tempo no maior clube do Brasil, um tempo que venhamos e convenhamos, muitos obtém, mais poucos o aproveitam.

Hoje com 202 partidas pelo São Paulo, com centenas de gols evitados e oito gols convertidos – um inclusive no ultimo jogo contra o Santo André – Miranda está consagrado como o melhor zagueiro do Brasil na atualidade, opinião essa de 9 entre 10 pessoas que entendem pelo menos um pouco sobre o esporte bretão.

Por três anos consecutivos (2007, 2008 e 2009) foi eleito pela CBF o melhor zagueiro pela direita do campeonato brasileiro e nos anos de 2008 e 2009 foi o vencedor da aclamada Bola de Prata da Revista Placar.

Sem duvida nenhuma é um prazer indescritível torcer pelo time que conta com Miranda em seu elenco. O zagueiro que nos faz esquecer do futebol de resultados e pragmático, que nos mostra que o futebol arte não está apenas em praticar firulas e dribles no ataque, e sim em ter porte, garbo e elegância quando se pisa no gramado.

Miranda faz com que vibremos com lances na defesa, mas não como um zagueiro qualquer, com chutões para o lado que se está virado, com demonstrações de garra e força e sim com lances destinados apenas aos gênios do futebol, aqueles que os deuses do esporte bretão designaram apenas aos jogadores que jogam do meio campo pra frente, mas é claro antes de conhecer Miranda.

Como já dizia Honoré de Balzac: "Elegância é a arte de não fazer nada igual aos demais, parecendo que se faz tudo da mesma maneira que eles."

Não meus caros amigos, não há exagero em minhas colocações, não há hipérboles, metáforas ou fanatismo, há simplesmente uma constatação futebolística externada por uma torcedora cética quanto ao tal futebol arte e que com a classe do futebol de Miranda se sentiu inspirada a divagar sobre a beleza e arte de um futebol praticado por um zagueiro, sim amigos, um zagueiro.

Eu que sempre rejeitei as tentativas de alguns jornalistas esportivos brasileiros de inserir o romantismo - clássico de outras décadas do futebol brasileiro onde a arte era primícia, inspirados pelos mestres Nelson Rodrigues e Armando Nogueira - no futebol atual, hoje me vejo apaixonada pelo futebol de Miranda.

Há momentos em que meu grau de êxtase é tão grande com lances de arte apresentados por ele, que as únicas palavras que consigo expressar são quase uma afronta aos deuses da arte, como MONSTRO, ANIMAL, CRAQUE...

Seleção? Não, estragaria todo o romance de Miranda com o futebol, afinal há muito tempo os melhores não são convocados a participar desse covil de egos e poder chamado de seleção brasileira e sim os mais recomendados pelo alto calão do futebol.

Velocidade, vigor físico, classe, arte e a já citada elegância fazem de Miranda quase a alma gêmea do futebol, do verdadeiro futebol. E nos mostra que o verdadeiro futebol arte não vem de dancinhas, firulas e marketing, e sim da regularidade de um artista que não precisa de holofotes para impressionar, necessita apenas de 120 x 90 metros para se enamorar com o futebol.

E para encerrar, plagiarei o mestre Armando Nogueira em uma de suas célebres citações sobre Nilton Santos:

“Tu, em campo, parecia tantos, e no entanto, que encanto! Eras um só, “Miranda”.”


Camila Zanluchi, 30 anos, uma quase psicóloga de corpo e futura jornalista de coração. Criada em uma familia palmeirense, aos 12 anos no primeiro titulo da Libertadores do São Paulo foi tomada por um amor incondicional ao time, que é demonstrado diariamente desde então. Apaixonada por escrever e por futebol, juntou o útil ao agradável e hoje colabora com alguns blogs decorrendo sobre suas paixões.
twitter.com/camilazanluchi

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