terça-feira, 16 de março de 2010

Lar, Doce Lar!

por Camila Zanluchi
http://img6.imageshack.us/img6/3687/morumbidt.jpg


Domingo, dia 14 de março de 2010.

E lá estava eu, rumando para mais uma partida do São Paulo em casa.

No caminho mil coisas vão se passando pela memória, como todas as vezes que já estive presente em jogos ou em dias normais naquele lugar, o Morumbi. Lembro como se fosse hoje de todas as vezes e das emoções que senti estando lá.

É estranha demais essa sensação que brota quando eu estou indo ao Morumbi, uma impressão de se estar indo pra casa, uma vontade insana de avisar a todos os conhecidos, que naquele dia estarei lá nele, imponente e majestoso como sempre.

Confesso que não deveria mais me emocionar indo ao Morumbi, afinal foram dezenas de vezes que lá estive presente em jogos grandes e pequenos, em vitórias e derrotas e em títulos conquistados e títulos perdidos, mas todas essas vezes foram únicas, todas essas vezes foram diferentes, todas elas tiveram um momento ou um acontecimento que me marcou.

O pior momento com certeza foi na derrota para o Vélez nos pênaltis pela final da Taça Libertadores da América no ano de 1994. “Dio Mio” me recordo como se fosse hoje, o Palhinha correndo e batendo o pênalti nas mãos de Chilavert e eu com uma bandeirinha do Japão na mão, não conseguia conter as lágrimas que brotavam dos meus olhos desenfreadamente.

O famoso banho de água fria. Estávamos com a casa cheia, todos realizando um maravilhoso espetáculo e naquele momento me senti como se um dos donos da residência, sem maiores explicações tivesse nos expulsado da casa dele sem motivo aparente algum, nos humilhando perante o mundo todo.

Com certeza foi um dos piores dias da minha vida.

Mas também já tive infinitas alegrias em casa. A mais marcante foi em 2007 com o Morumbi lotado, um espetáculo inexplicável com bandeiras tricolores, torcida aos plenos pulmões entoando o hino tricolor e já esperando o inevitável bi campeonato consecutivo do Campeonato Brasileiro. E foi o que ocorreu; naquela noite especial ganhamos de 3 a 0 do América de Natal, com um futebol vistoso mas ao mesmo tempo prático e de resultados.

Com várias rodadas de antecedência nos sagramos bi campeão brasileiro seguido e pra corroborar com a festa, o nosso maior adversário, naquele dia perdia para o Flamengo e praticamente escrevia o seu nome na série B do Campeonato Brasileiro.

A festa estava completa.

Recordo-me de Rogério Ceni dando a volta Olímpica com a bandeira da Independente em punho, me lembro também de Leandro Guerreiro subindo e ficando de pé, em cima das duas traves do campo e também de Muricy vindo bem a minha frente na arquibancada e batendo no braço dizendo: - Isso aqui é trabalho, meu filho!

Nesse dia não consegui conter as lágrimas, chorei como criança, de felicidade e de satisfação, como se eu fizesse parte do time, como se eu fosse parte do elenco, como se tivesse participado das preleções, das concentrações, dos treinos... Em suma, sensação de trabalho bem realizado. Coisa estranha né, eu sei; mas é assim mesmo que me sinto.

Como se o São Paulo fosse eu, como se os títulos fossem meus, como se as derrotas fossem minhas, porque o São Paulo é parte de mim, isso só faz com que o Morumbi seja mais do que minha casa, seja na verdade o meu lar, o lugar aonde me sinto bem, aonde me sinto a vontade para gritar, sorrir, chorar, me indignar e me emocionar.

Domingo passado mais uma vez tive essas mesmas sensações.

As borboletas no estômago mais uma vez apareceram ao avistar meu lar e ver que ele estava lá, grande, imponente, soberano e acima de tudo, ÚNICO!

Pra ser perfeito só falta o tapetinho na porta com os dizeres Lar, Doce Lar.

Calma, isso não é fanatismo ou paixão, isso é amor, isso é um sentimento que esta em casa poro do meu corpo. Não preciso provar a ninguém se sou são paulina ou não, porque isso é inerente a mim, afinal o São Paulo sou eu, e eu sou o São Paulo. Dentro de mim não há essa diferenciação.

Retomando o domingo passado, fiz como todas as vezes que lá adentro. Olhei tudo, de cima em baixo, maravilhada com a imponência de um dos maiores estádios particulares do mundo. O frio na barriga e a emoção imagino que sejam visíveis a olho nu em mim, ando por lá como se tivesse que aproveitar aquele momento como se fosse o ultimo.

Sentei-me em uma cadeira azul bem acima do símbolo no meio de campo, lugar quase religioso meu ali no estádio e lá fiquei observando tudo o que acontecia ao redor, todas as reações das pessoas que chegavam e se sentavam.

Orgulhei-me quando vi uma caravana de japoneses passarem pela minha frente, com os ingressos nas mãos procurando pela numeração dos mesmos, o lugar certo de se sentar, coisa de primeiro mundo. Todos estavam com a camisa nova do São Paulo – aquela sem patrocínio algum - e não paravam de falar, olhando tudo, apontando tudo e dando risada de tudo que acontecia. Estavam visivelmente realizados e admirados com o tamanho “de minha casa”.

Sentados acima de mim, um pai com dois filhos com a camisa oficial do São Paulo também. Era a primeira vez das crianças ali e elas não se faziam de desentendidas e a todo o momento, perguntavam o porquê disso, como aquilo acontecia, o que ficava acima deles e uma hora um deles falou: - Pai, esse é o lugar mais lindo que já vim.

Nossa, essa pessoa que vos fala quase não se conteve em derramar algumas lágrimas.

Que orgulho eu sentia naqueles instantes antes da partida começar, as cadeiras cativas cheias de pessoas do bem, pessoas “bonitas” , sem brigas, sem ofensas.

Como uma boa moradora me entristeci apenas com o fato de tudo que se consome dentro do Morumbi ser jogado no chão do mesmo. Afinal ninguém gosta de ver sua casa suja.

Recordo-me da minha primeira reação ao pisar na Pista VIP do show da Beyonce esse ano no Morumbi. Olhei para o lado e disse: - Meu Deus, isso vai acabar com o gramado! E confesso que pensei nisso em vários momentos ao longo do show.

Não, isso não é fanatismo, isso se chama conservar patrimônio, afinal eu estava em casa, a maioria ali era visitante e nem sabia a importância daquela arena para cada de nós são paulinos.

Aquele domingo foi realmente especial, novidades estavam presentes na nossa casa. Do lado esquerdo da onde eu me localizava, estava escrito bem grande Buffet Infantil do São Paulo, crianças agora poderão comemorar seus aniversários no estádio e nos bastidores houve a inauguração da nova sala para os fotógrafos. Coisa linda também!

Estava pensando aqui com os meus botões; que BNDS nada, “bora” escrever pro Lar, Doce Lar do Luciano Huck pra ele reformar a nossa casa. Brincadeiras a parte, é muito bom ser são paulino e é inexplicável ter um castelo para morar.

O frio na barriga permaneceu até eu colocar os pés na rua e olhar pra trás e dizer: Até a volta Lar, Doce Lar!


Camila Zanluchi, 30 anos, uma quase psicóloga de corpo e futura jornalista de coração. Criada em uma familia palmeirense, aos 12 anos no primeiro titulo da Libertadores do São Paulo foi tomada por um amor incondicional ao time, que é demonstrado diariamente desde então. Apaixonada por escrever e por futebol, juntou o útil ao agradável e hoje colabora com alguns blogs decorrendo sobre suas paixões.

Twitter: twitter.com/camilazanluchi

blog comments powered by Disqus